terça-feira, dezembro 14, 2004

Todas as semanas tudo deve ser lavado.Vejo a sabão escorrendo pelo vão da porta. Soda -para dissolver nossa sujeira, para apagar nossos pecados. O que realmente sobrevive ao homem? Mais do que suas idéias - o seu lixo. O rio continua levando as pegadas de quem já se foi. O resíduo de cada um, inteligente ou parvo. A sujeira é imortal.Os sentimentos, palavras, os símbolos, tudo é engolido pelo imenso vazio. A sujeira de cada existência fica. Nosso lixo fede, como se nos acusasse silenciosamente, ironicamente. Nossos corpos fedem, nos avisando que já estamos em decomposição. Somos finitos e obliteramos nossos sentidos com soda e perfumes. Enganamos nossos olfatos e com isso acreditamos na mentira - imagem e semelhança de D'us. Cópias mal feitas e perecíveis. Apodrecemos a cada dia mas afogamos a incerteza com espuma. A higiene nos ilude - é a religião do corpo, que finge ser asseado e puro, como a alma, que finge ser eterna.

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