sábado, outubro 01, 2005

arrumando o micro e cantando...

e achei este texto
de muito muito muito tempo atrás

Nininha
Pânico, panico, panico.
Respirar fundo
Trancar a varanda, fechar as cortinas
respire respire
(minutos depois sentada na sala)
Escondi os remédios. Tranquei as portas. Tirei tudo da tomada.
Tudo?
(enumerando)
geladeira
freezer
televisão
computador
...
telefone
.... ( murmura) não, o telefone nem vai na tomada...
(começa a chorar e encosta a cabeça na parede)
escuta vozes do outro lado
(por um segundo distraiu-se)
um homem chorando
um choro diferente do dela..
um choro mais guardado, sei lá
ela se endireita e encosta o ouvido inteiro na parede gelada
agora o homem só soluça
chega no interfone e tenta lembrar qual o apartamento do homem
(murmura para si mesma)quantos por andar? calma, que prédio é esse
lembre-se do corredor e conte as portas
cada apartamento tem duas portas certo? não não, os de canto são menores e tem só uma porta
tirou o interfone do ganho e falou séria para o porteiro
O senhor me interfone por favor no apartamento daqui da frente
(...)nada
o porteiro mudo só cumpriu a ordem
a surpresa que sentiu lhe trouxe o gosto de segurança
quase perdeu a coragem
só faria aquilo em um caso de vida ou morte
e agora era caso assim, dos dois..
O homem demorou para atender
escutou-lhe entrar na cozinha mesmo antes de atender o interfone
pelo barulho tropeçara em alguma cadeira
Ele atendeu com uma voz baixa
--Alô
ela sabia que era voz embargada de choro
ela deixou-o falar outra vez
--Alô??
- Olá... oi ..aqui é a vizinha da frente e moço eu preciso de um favor sério seu....
( silêncio pesado do outro lado) escutava-o somente fumar
- eu estou tendo uma crise de pânico e preciso conversar com alguém, por favor não ache que sou louca, o senhor poderia conversar um pouco comigo enquanto meus remédios fazem efeito?
- como assim? aí? na sua casa?
- não não - eu não gostaria de abrir a porta neste momento..
só gostaria de conversar um pouco
aqui mesmo... pelo interfone

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